Autores/ psicólogos:
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1.0 Introdução
Até o século XX, predominava a crença de que cérebro humano era imutável. Assim, segundo Leon (2012), acreditava-se que danos, perdas degenerativas ou lesões seriam definitivas no seu funcionamento. Para Doige (2011), quando a melhora psicológica de um paciente não ocorria, aplicava-se a explicação médica convencional, que ele chamou de hardwiring, fazendo referência à metáfora do cérebro como um computador em que os circuitos estão permanentemente conectados, presos a funções específicas e inalteráveis.
Após a Segunda Guerra Mundial houve uma grande demanda de reabilitar milhares de pacientes lesionados em diferentes graus. Com isso, houve um significativo progresso na compreensão da capacidade de recuperação de funções cerebrais. Os avanços tecnológicos e clínicos foram marcos importantes nesse processo segundo Benton, Tranel (2000).
Desde então, a neuroplasticidade em adultos tem sido tema de diversos estudos. Evidências indicaram que alterações nos neurônios receptores que detectam estímulos internos ou externos podem produzir uma reorganização plástica do sistema nervoso. De acordo com Leon (2012), as vias aferentes são aquelas afetadas por seus arredores e, conhecidas como neurônios sensoriais. Eles sentem o ambiente (tal como dor, calor, pressão) e quaisquer alterações no ambiente, e informam ao Sistema Nervoso Central.
São elas que levam informações do corpo para o Sistema nervoso central, ou seja, são vias de entrada para o cérebro e estão associadas às nossas funções sensoriais. O que se viu foi que, a perda ou remoção de determinada área cerebral, resultou na invasão de uma outra área preservada, ocorrendo um remapeamento do sistema somatosensório, segundo Damásio (2012).
Para Gazzaniga (1995), as mudanças ambientais atuam alterando a ação dos genes, as atividades das enzimas que sintetizam os neurotransmissores, a função dos fatores de crescimento neural, o desenvolvimento de processos neuronais, a formação e fortalecimento de conexões neurais, além de prover a própria sobrevivência dos neurônios. Isso significa que o cérebro é capaz de se modificar de acordo com fatores internos e externos.
2.0 Desenvolvimento
O que é neuroplasticidade?
De acordo com Muszkat e Mello (2012), o termo plasticidade tem origem etimológica do grego plaiticós, que se refere à capacidade de algo ser moldado ou esculpido. A plasticidade cerebral é uma mudança adaptativa na estrutura e função do sistema nervoso e ocorre em qualquer fase da vida em função da interação com o meio ambiente externo e interno.
Os autores destacam que a plasticidade neural é multidimensional, delimitando as relações entre estrutura e função das respostas adaptativas, impulsionada por lesões ou desafios do meio. A plasticidade neural como estrutura organizacional, é intrínseca ao cérebro e se mantém ativa a vida toda inclusive na velhice.
De acordo com Muszkat e Mello (2012), a plasticidade neural se dá de diversas formas, o neuroquímico, na modificação de neurotransmissores e neuromoduladores durante o crescimento e o desenvolvimento. Os diferentes padrões de conexões entre os neurônios modificam as sinapses ativas e o comportamento, criando estratégias cognitivas de acordo com os desafios do ambiente.
A plasticidade neural está envolvida no crescimento de novas conexões sinápticas, no crescimento de espículas dendríticas, mudança na conformação de macroproteínas das membranas pós-sinápiticas, ou seja o neurônio que recebe os estímulo através dos neurotransmissores e o aumento das áreas sinápticas funcionais (MUSZKAT e MELLO, 2012).
Para os autores, o desenvolvimento cerebral é caracterizado com diferentes expressões do potencial de modificabilidade, através da experiência. Esse potencial depende de diversos fatores tais como crescimento neural, o grau de fornecimento ou aquisição da bainha de mielina das suas estruturas, o desenvolvimento pré-natal e das possibilidades que tem o cérebro de seus múltiplos padrões de resposta e conexões. Assim a plasticidade neural se insere em uma perspectiva evolutiva maturacional, na qual a expressão clínica dos padrões de lesões e disfunções difere do ponto de vista do crescimento neuronal.
Isso significa dizer que o cérebro não é um sistema fechado, com funções pré-definidos, ele interage com elementos que estão a sua volta, elementos do meio físico e sociocultural, e é capaz de se modificar em decorrência de sua interação com o mundo. Ele é capaz de se adaptar a necessidades variadas, de acordo com as exigências internas e externas.
Afinal, como funciona o cérebro?
Foi nos esforços de Luria (1981), em reabilitar soldados com lesões em diversas dimensões que foi fundamentada uma teoria do cérebro como um órgão completamente interligado, plástico e com funções cognitivas superiores. Ele buscava compreender a implicação das lesões cerebrais na cognição e no comportamento. Descreveu o cérebro como “uma orquestra, diversos instrumentos afinados em uma única sinfonia”. Luria (1981), organiza o funcionamento cerebral dividido em três áreas distintas que possuem uma atuação conjunta, hierárquica e combinada formando sistemas funcionais complexos.
A primeira unidade funcional se localiza no substrato da substância reticulada e cerebelo, que são responsáveis por alerta e atenção, monitorando e controlando o estado de vigilância, bem estar, fadiga, foco, motivação e tônus muscular.
A segunda unidade funcional se localiza nos lobos occipital, temporal e parietal, que são responsáveis pela codificação, análise, armazenamento, integração de memórias de longo prazo e processos simultâneos que envolvem mais de uma área para significância da informação.
A terceira unidade funcional se localiza no lobo pré frontal denominado planificação, que é responsável pelo desenvolvimento de uma sequência de ações ou uma série de manobras e procedimentos para atingir um objetivo. É um sistema de organizações que inclui estratégias, metaplanos, programa de elaboração, execução, controle e monitoramento de ações. A ele é atribuído as funções cognitivas superiores e complexas.
O que é psicoterapia?
Psicoterapia é um processo colaborativo baseado na relação entre indivíduo e psicólogo, no intuito de trabalhar suas problemáticas emocionais, comportamentais e psicológicas.
Nesse processo, é construído um vínculo a partir da escuta qualificada do terapeuta, alinhada ao acolhimento das angústias trazidas pelo paciente. O psicólogo auxilia na reflexão, elaboração e construção de novos caminhos. Quando esse vínculo é bem estabelecido, cria-se um canal seguro de troca e parceria, onde o paciente tem suas questões internas acolhidas e recebe suporte para uma compreensão mais ampla e assertiva de si, aumentando suas possibilidades internas e externas, obtendo assim o alívio de suas angústias e o crescimento pessoal decorrente de uma relação mais genuína consigo mesmo.
Alguns benefícios da psicoterapia:
– Promove autoconhecimento
– Ajuda a encontrar motivação (que está dentro de si, não fora)
– Melhora sua relação intrassubjetiva (você com você)
– Melhora os relacionamentos interpessoais
– Permite a elaboração e “cicatrização” das feridas emocionais do passado
– Estimula a resolução de problemas e a flexibilidade cognitiva e adaptativa
Introdução a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC)
É importante ressaltar que não temos a intenção de eleger uma metodologia teórica mais eficiente, acreditamos que todos os tipos de abordagem são válidos e podem ajudar a aumentar a qualidade de vida, a autorregulação e a neuroplasticidade.
De acordo com Beck et al., (1979), a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), baseia-se em um conjunto de teorias bem desenvolvidas, que são utilizadas para formular planos de tratamento e orientar as ações do terapeuta.
De acordo com Wright (2008), a TCC é uma abordagem de senso comum e baseia-se basicamente em dois princípios primeiro que nossas cognições têm uma influência controladora sobre nossas emoções e comportamentos, segundo que o modo como agimos ou nos comportamos pode afetar profundamente nossos padrões de pensamento e nossas emoções.
Segundo Beck et al., (1979) a TCC tem influências de filósofos estóicos como Epíteto, Cícero, Sêneca e filosofias orientais como taoísmo e budismo. A cognição é considerada como uma força primária na determinação do comportamento. Dalai Lama (1999), em consonância com as bases da TCC, considera que “se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso comportamento, nós poderemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais facilmente, mas sobre tudo evitar que muito dele surja”.
Segundo Wright (2008), a perspectiva de que o desenvolvimento de que um estilo saudável de pensamento pode reduzir a angústia ou dar maior sensação de bem-estar, é um tema comum entre muitas gerações e culturas. Para ele, o processamento cognitivo recebe um papel central nesse modelo, porque o ser humano continuamente avalia a relevância dos acontecimentos internamente e no ambiente que o circunda.
Segundo (Beck et al,. 1879; D. A Clarck et al., 1999; Dobsin e Shaw, 1986), o nível mais alto da cognição é consciência. É um estado de atenção no qual decisões podem ser tomadas racionalmente. A atenção nos permite monitorar e avaliar as relações com o meio ambiente, ligar memórias passadas a experiências do presente, controlar e planejar ações futuras.
Wrigth (2008) argumenta que a TCC estimula o raciocínio lógico e a solução de problemas. Para ele, o terapeuta ajuda o paciente a reconhecer e mudar seus pensamentos patológicos em dois níveis de processamento de informação autônomos: os pensamentos automáticos e os esquemas. Pensamentos automáticos são cognições que passam rapidamente por nossas mentes quando estamos em meio a situações ou relembrando acontecimentos. Embora possamos estar conscientes da presença dos pensamentos automáticos, normalmente essas cognições não estão sujeitas a uma análise racional e cuidadosa. Já os esquemas, são crenças centrais nucleares que agem como matrizes para o processamento cognitivo.
A TCC não postula estruturas ou defesas específicas que bloqueiam o pensamento da consciência (D. A. Clarck et al., 1999). Em vez disso enfatiza técnicas destinadas a detectar e modificar seus pensamentos mais profundos. Para Wrigth (2008), a TCC ensina os pacientes a pensar sobre o pensamento, para atingir a meta de trazer as cognições autônomas à atenção e ao controle consciente Wrigth (2008).
Considerações finais
É evidente que os processos terapêuticos e de estimulações cognitivas promovem a aprendizagem, portanto executam a neuroplasticidade cerebral, criando novas sinapses, expandindo o mapeamento cerebral, modificando o neuroquímico, agindo sobre os neurotransmissores e neuromoduladores durante o crescimento e o desenvolvimento.
Os diferentes padrões de conexões entre os neurônios modificam as sinapses ativas e o comportamento, criando estratégias cognitivas de acordo com os desafios do ambiente. Assim, a psicoterapia promove a neuroplasticidade, a modulação do comportamento, a autorregulação, a psicoeducação das emoções e o aumento da qualidade de vida.
Bibliografia
BECK AT, Rush AJ, Shaw BF, et al: Cognitive Therapy of Depression. New York, Guiford, 1979.
BENTON, Arthur,TRANEL, Daniel 2000. Historical notes on
reorganization of function and neuroplasticity.
CLARK DA, Beck AT, Alford HA: Scientific Foundations of Cognitive Theory and Therapy of Depression. New York, Wiley 1999.
DALAI Lama: Ethics for the New Millennium. New York, Reverhead Books, 1999.
Dámásio António R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano/ António R. Damasio; tradução Dora Vicente Georgina Segurado, – 3ª ed. – São Paulo: Companhia de Letras p.91-116, 2012.
DONBSON Ks Shaw BF: Cognitive assessment with major depressive disorders. Cognit The Res 10: 13-29, 1986.
DOIDGE, Norman- O cérebro que se transforma.1ª Edição. Rio de Janeiro, Record, 2011.
GAZZANIGA, Michael: The Cognitive Neurosciences. 2ª Edição, 1995 Ed. Bradford Book, Cambridge
MUSZKAT M, MELLO CB. Neuroplasticidade e reabilitação neuropsicológica. In J. Abrisqueta-Gomes (Org.), Reabilitação neuropsicológica: Abordagem interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica. Porto Alegre: Artmed; p. 359 a 369. 2012.
Rodrigues SdD, Ciasca SM. Aspectos da relação cérebro-comportamento: histórico e considerações neuropsicológicas. Rev. Psicopedagogia 2010;27(82):117-126
WIGTH, Jesse H. Aprendendo a terapia cognitivo comportamental: um guia ilustrado / Jesse H. Wrigth, Monica R. Basco, Michel E. Thase; tradução Mônica Giglio Armando. – Porto Alegre: Artmed, 2008